quarta-feira, 13 de julho de 2016

Startup Socialista ou Cinema? o que é isto?


Fui desafiado por amigos a compor uma equipe de articuladores criativos para desenvolver uma campanha “marginal” ao pleito de vereadores da capital cearense. Foi apresentado um menu de três ideias, todas elas aconteceriam com ou sem a minha presença. A primeira ideia era composta por militantes da causa LGBTT, e decidi que não tinha habilidades para ajuda-los a desenvolver o roteiro exposto. Uma segunda opção era a campanha denominada Quatro e vinte (horário nacional para os maconhistas fumar o baseado. Mas eles sempre se atrasam). Outra possibilidade era ajudar na criação e divulgação de conteúdos para uma candidatura feminista. Confesso que fui tentado a escolher a ultima opção. Rica em possibilidades de confrontos e argumentos. Uma campanha de caráter contestador e libertário poderia atrair atenção ao tema “Nem Deus, Nem Pátria e Nem Patrão”, poderia ser uma nascente de plataformas midiáticas. Poderia se não fosse o empecilho de eu ser um homem, e que jamais poderia orientar suas câmeras. E nem tive essa pretensão, apenas conclui que seria pouco proveitoso, do meu ponto de vista, não poder intervir com liberdade criativa na história que está sendo contada (apresentada). Em respeito ao protagonismo e afirmação feminina me esquivei por conhecer as limitações de gênero. 

Restou-me a opção de trabalhar na campanha 4:20. Uma campanha ousada, com perfil jovem e uma ampla possibilidade de discursos (incluindo LGBTT e Feminismo) com apenas uma fraqueza: eu sou careta.

MAS QUEM DE BODES CUIDA, CABRA É.

Não sou do tipo reformista que acredita na possibilidade de mudar o mundo por decreto. A cada eleição percebo e sinto o quanto é repetitivo e chato os métodos de disputa por voto. O campo politico se assemelha a uma disputa de território entre duas gangues rivais (Direita vs. Esquerda; Oposição vs. Situação). Não defendo a democracia representativa, nem quero dar vazão a discursos que levem a acreditar neste modelo proposto pela burguesia. E é para enfrentar essa lógica conservadora da democracia burguesa que aceito o desafio de construir e fazer parte de um coletivo para o pleito 2016 à câmara da capital cearense.

NOS INTERESSA O QUE NÃO FOI IMPRESSO, E CONTINUA SENDO ESCRITO À MÃO...

A esquerda brasileira perdeu as ruas por não saber usar a internet. Esta assertiva foi feita pelo cyber-ativista espanhol Javier Toret Medina, em uma entrevista concedida a RBA - Rede Brasil Atual.(http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/07/esquerda-brasileira-perdeu-as-ruas-porque-e-ruim-na-internet-diz-ativista-espanhol) Como diz a musica pop dos anos oitenta “Falamos uma outra língua. Vivemos em outro país.” Em um país onde, ainda existe trabalho escravo, a maioria dos trabalhadores assalariados vivem com menos de cinco reais por hora trabalhada, e onde o acesso a internet é escasso, seria ingenuidade pensar que entre analfabetos funcionais e escravos existam leitores de blogs, vlogs e home pages.
“O Movimento Passe Livre...sequer tinha um perfil no Twitter para expressar suas posições ou ao menos criar hashtags” Javier Toret Medina

Isso não quer dizer que abriremos mãos de produzir conteúdos para a grande rede. Fazendo um contraponto ao ativista espanhol, afirmo que a esquerda brasileira, em especial a institucionalizada esquerda Petista, perdeu as ruas para fascistas, racistas e pró-militaristas, por não saber dialogar com os movimentos autônomos e apartidários. 
SAIAM DA FRENTE DE SEUS COMPUTADORES! EXISTE VIDA ALÉM DO FACEBOCK! 
Este era pra ser o chamado, mas a ordem era defender o governo e fazer festas em defesa de outra cultura de movimentos, que só me parece, aumentaria o crédito no bar da boemia. Os militantes Cyber-defensores do governo foram tão idiotas que acabaram gerando flood nas postagens anti-governo. Longe da intensão de ser vulgar na critica aos militantes da esquerda brasileira, pondero que as ações desta mesma esquerda foi importantissimo atuando em setores da sociedade civil organizada e construindo processos críticos ao sistema como foi o FSM – Fórum Social Mundial em Porto Alegre. A falha foi ter relaxado no enfrentamento ao capital.

QUEM CABRITOS VENDE E CABRAS NÃO TEM, DE ALGUM LADO LHE VEM. 
A crise da classe trabalhadora é a crise da sua direção.
Vejo esse momento eleitoral (2016) como um cinéfilo do século passado que assiste as possibilidades de novas narrativas no Novelle Vague(pequeno grupo de amantes de cinema que em 1958 era capaz de realizar seus primeiros longas-metragens com uma explosão de energia criativa.) Porém saiamos da condição de expectador para encarar o desafio de produção e/ou coprodução de roteiros e direções. Os Nouvelle Vagueurs absorveram o conceito, criado por Alexandre Astruc(1923), de Camera-Stylo(Camera-caneta ou Câmera-pena) no qual a câmera abandona a mera função de maquina capturadora de imagens e passa a se tornar o meio de escrever tão sutil e flexível como a linguagem escrita. A expressão de lamento na cena do cinema mudo que descrevia a morte de jovens soldados na guerra, em um filme realizado por Peter Weir em 1981, demonstra bem o papel da câmera na construção de uma narrativa.
Agora tomemos como referencia o cinema americano dos anos 70 para analisar o novo papel que a câmera assume na narração de uma história. Basta nos atermos a cenas dos acontecimentos psicossociopolitico e cultural da época para entendermos o que é o olhar da câmera. As imagens do Woodstock ainda estavam presentes na memória da juventude americana quando viram cenas marcantes na Tv como a caminhada de Neil Armstrong na lua ou a cena de crueldade quando Charles Manson e seu grupo satânico esfaquearam brutalmente a atriz Sharon Tate, gravida de oito meses. 
A partir deste momento sugiram os questionamentos do que pode e não pode ser mostrado pela câmera veio à tona nos anos seguintes, levando a extremos radicais como a censura conservadora e a espetacularização sensacionalista. Questões sobre o papel da mídia e como a produção de imagens e a cultura do “Mass Midia” influenciam opiniões e comportamentos.
Reproduzindo o que é afirmado no blogg do Grupo de Pesquisa em Semiótica e Culturas da Comunicação – GPESC (https://gpesc.wordpress.com/2010/01/19/aumont-2003-%E2%80%93-dicionario-teorico-e-critico-de-cinema/) A câmera é o instrumento de uma reprodução indefinida do sujeito[...] ela é “ um nome para a maneira como olhamos e como conhecemos a um dado momento” [...] sendo que o término da história da representação ocidental(burguesa) é: Centralização, perspectiva, ilusionismo etc...
A comunicação de massa exclui a cultura do saber. O que é reproduzido nas mídias não é um saber no sentido próprio do termo; “é o estranho corpo de signos e referências, de reminiscências escolares e de signos intelectuais de moda” a que se dá o nome de “ mass mídia”.


O NOVO PEDE PASSAGEM
Não devemos aceitar modelos importados sem antes fazermos uma analise critica das plataformas que já temos. A produção de mídias formativas e informativas deve surgir do idiossincrático interesse documental. Produzimos por entendermos que é necessário. Registramos os nossos conteúdos e avaliamos, na decupagem, destes os que nos serve para a comunicação e propaganda politica.