Fui desafiado por amigos a compor uma equipe de articuladores
criativos para desenvolver uma campanha “marginal” ao pleito de vereadores da
capital cearense. Foi apresentado um menu de três ideias, todas elas
aconteceriam com ou sem a minha presença. A primeira ideia era composta por
militantes da causa LGBTT, e decidi que não tinha habilidades para ajuda-los a
desenvolver o roteiro exposto. Uma segunda opção era a campanha denominada Quatro
e vinte (horário nacional para os maconhistas fumar o baseado. Mas eles sempre
se atrasam). Outra possibilidade era ajudar na criação e divulgação de conteúdos
para uma candidatura feminista. Confesso que fui tentado a escolher a ultima
opção. Rica em possibilidades de confrontos e argumentos. Uma campanha de caráter
contestador e libertário poderia atrair atenção ao tema “Nem Deus, Nem Pátria
e Nem Patrão”, poderia ser uma nascente de plataformas midiáticas. Poderia se
não fosse o empecilho de eu ser um homem, e que jamais poderia orientar suas câmeras.
E nem tive essa pretensão, apenas conclui que seria pouco proveitoso, do meu
ponto de vista, não poder intervir com liberdade criativa na história que está
sendo contada (apresentada). Em respeito ao protagonismo e afirmação feminina
me esquivei por conhecer as limitações de gênero.
Restou-me a opção de
trabalhar na campanha 4:20. Uma campanha ousada, com perfil jovem e uma ampla
possibilidade de discursos (incluindo LGBTT e Feminismo) com apenas uma
fraqueza: eu sou careta.
MAS QUEM DE BODES CUIDA, CABRA É.
Não sou do tipo reformista que acredita na possibilidade de
mudar o mundo por decreto. A cada eleição percebo e sinto o quanto é repetitivo
e chato os métodos de disputa por voto. O campo politico se assemelha a uma
disputa de território entre duas gangues rivais (Direita vs. Esquerda; Oposição
vs. Situação). Não defendo a democracia representativa, nem quero dar vazão a discursos
que levem a acreditar neste modelo proposto pela burguesia. E é para enfrentar
essa lógica conservadora da democracia burguesa que aceito o desafio de
construir e fazer parte de um coletivo para o pleito 2016 à câmara da capital
cearense.
NOS INTERESSA O QUE NÃO FOI IMPRESSO, E CONTINUA SENDO ESCRITO À MÃO...
A esquerda brasileira perdeu as ruas por não saber usar a internet.
Esta assertiva foi feita pelo cyber-ativista espanhol Javier Toret Medina, em
uma entrevista concedida a RBA - Rede Brasil Atual.(http://www.redebrasilatual.com.br/politica/2016/07/esquerda-brasileira-perdeu-as-ruas-porque-e-ruim-na-internet-diz-ativista-espanhol)
Como diz a musica pop dos anos oitenta “Falamos uma outra língua. Vivemos em
outro país.” Em um país onde, ainda existe trabalho escravo, a maioria dos
trabalhadores assalariados vivem com menos de cinco reais por hora trabalhada,
e onde o acesso a internet é escasso, seria ingenuidade pensar que entre
analfabetos funcionais e escravos existam leitores de blogs, vlogs e home pages.
“O Movimento Passe Livre...sequer tinha um perfil no Twitter para expressar suas posições ou ao menos criar hashtags” Javier Toret Medina
Isso não quer dizer que abriremos mãos de produzir conteúdos
para a grande rede. Fazendo um contraponto ao ativista espanhol, afirmo que a esquerda brasileira,
em especial a institucionalizada esquerda Petista, perdeu as ruas para fascistas,
racistas e pró-militaristas, por não saber dialogar com os movimentos autônomos
e apartidários.
SAIAM DA FRENTE DE SEUS COMPUTADORES! EXISTE VIDA ALÉM DO FACEBOCK!
Este era pra ser o chamado, mas a ordem era defender o governo e fazer
festas em defesa de outra cultura de movimentos, que só me parece, aumentaria o
crédito no bar da boemia. Os militantes Cyber-defensores do governo foram tão idiotas que acabaram gerando flood nas postagens anti-governo. Longe da intensão de ser vulgar na critica aos militantes
da esquerda brasileira, pondero que as ações desta mesma esquerda foi importantissimo atuando em setores
da sociedade civil organizada e construindo processos críticos ao sistema como
foi o FSM – Fórum Social Mundial em Porto Alegre. A falha foi ter relaxado no
enfrentamento ao capital.
QUEM CABRITOS VENDE E CABRAS NÃO TEM, DE ALGUM LADO LHE VEM.
A crise da classe trabalhadora é a crise da sua direção.
Vejo esse momento eleitoral (2016) como um cinéfilo do século
passado que assiste as possibilidades de novas narrativas no Novelle Vague(pequeno grupo de amantes
de cinema que em 1958 era capaz de realizar seus primeiros longas-metragens com
uma explosão de energia criativa.) Porém saiamos da condição de expectador para
encarar o desafio de produção e/ou coprodução de roteiros e direções. Os Nouvelle Vagueurs absorveram
o conceito, criado por Alexandre Astruc(1923), de Camera-Stylo(Camera-caneta ou
Câmera-pena) no qual a câmera abandona a mera função de maquina capturadora de
imagens e passa a se tornar o meio de escrever tão sutil e flexível como a
linguagem escrita. A expressão de lamento na cena do cinema mudo que descrevia
a morte de jovens soldados na guerra, em um filme realizado por Peter Weir em
1981, demonstra bem o papel da câmera na construção de uma narrativa.
Agora tomemos como referencia o cinema americano dos anos 70
para analisar o novo papel que a câmera assume na narração de uma história.
Basta nos atermos a cenas dos acontecimentos psicossociopolitico e cultural da
época para entendermos o que é o olhar da câmera. As imagens do Woodstock ainda
estavam presentes na memória da juventude americana quando viram cenas
marcantes na Tv como a caminhada de Neil Armstrong na lua ou a cena de
crueldade quando Charles Manson e seu grupo satânico esfaquearam brutalmente a
atriz Sharon Tate, gravida de oito meses.
A partir deste momento sugiram os
questionamentos do que pode e não pode ser mostrado pela câmera veio à tona
nos anos seguintes, levando a extremos radicais como a censura conservadora e a
espetacularização sensacionalista. Questões sobre o papel da mídia e como a produção de
imagens e a cultura do “Mass Midia” influenciam opiniões e comportamentos.
Reproduzindo o que é afirmado no blogg do Grupo de Pesquisa
em Semiótica e Culturas da Comunicação – GPESC (https://gpesc.wordpress.com/2010/01/19/aumont-2003-%E2%80%93-dicionario-teorico-e-critico-de-cinema/)
A câmera é o instrumento de uma reprodução indefinida do sujeito[...] ela é “
um nome para a maneira como olhamos e como conhecemos a um dado momento” [...]
sendo que o término da história da representação ocidental(burguesa) é: Centralização,
perspectiva, ilusionismo etc...
A comunicação de massa exclui a cultura do saber. O que é
reproduzido nas mídias não é um saber no sentido próprio do termo; “é o estranho
corpo de signos e referências, de reminiscências escolares e de signos
intelectuais de moda” a que se dá o nome de “ mass mídia”.
O NOVO PEDE PASSAGEM
Não devemos aceitar modelos importados sem antes fazermos uma
analise critica das plataformas que já temos. A produção de mídias formativas e
informativas deve surgir do idiossincrático interesse documental. Produzimos
por entendermos que é necessário. Registramos os nossos conteúdos e avaliamos, na
decupagem, destes os que nos serve para a comunicação e propaganda politica.