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Helio Oiticica, 1968, Arte Conceptual. |
Neste fim de semana recebi duas noticias relacionadas às "artes urbanas", uma próxima e outra distante, que me estimularam a escrever um pouco sobre o tema. A próxima foi a realização de uma intervenção espontânea de alguns alunos do CLAV-IFCE(Curso de Licenciatura em Artes Visuais do Instituto Federal de Educação Ciências e Tecnologia do Ceará) numa parede da Av. Santos Dumont. A outra noticia, bem distante, foi a intervenção sobre os tapumes do canteiro das obras de reforma do Museu da Língua Portuguesa, localizado na Estação da Luz, em frente a praça da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Ambas guardam intrinsecamente um motivo para a sua realização, e este motivo consegue atingir o seu objetivo quando faz alguém, como cá estou, pensar sobre aquilo.
Há pouco mais de um ano que me interesso em elaborar sobre a produção artística marginal na cidade. Ao que dou o nome de "Produção Marginal" é tudo aquilo que é produzido à margem da industria de mercadorias de consumo cultural(entretenimento).
Mas até que ponto o que estar à margem da Industria Cultural é subversivo?
Até que ponto não quer se tornar uma mercadoria, e sente, por vias marginais, uma mercadoria rejeitada?
Ou, ainda, até que ponto é em si mesma um "pré-conceito" de mercadoria exposta, buscando seduzir e atrair olhares para se legitimar e criar um valor?
Em 2016 saí pelas ruas de Fortaleza com minha Cyber-shot (câmera de bolso) capturando imagens de Colagens, Grafites, Pichos, Leterings e outras intervenções urbanas. De inicio deslumbrado com os grafites e colagem de três coletivos(Monstras; "Festival Concreto" e "Desaparecidos Politicos"). Também notei a ação/pensamento coletiva agindo por trás de alguns artistas que passei a admirar( Grud; Luz e Tubas) por perceber o nível de engajamento de suas artes(fazer) com o olhar urbano.
Inicialmente, adotei um método de observação dos muros me permitindo ser afetado pelos conteúdos numa atitude passiva de observador comum, o tipo que passa pela cidade e se depara com uma mensagem no muro, ou num poste, e é arrebatado para uma outra realidade. Num segundo momento fiz registros fotográficos e manuscritos sobre o que observava, com a finalidade de compará-los e extrair destes espaço/imagens um sentido estético, investigando as diferenças de identidades em seus textos.
- Como assim! Textos? Mas não eram imagens?
A ocupação dos espaços urbanos por coletivos de produção visual oferecem ao publico uma outra percepção do espaço, como também faz destes espaços territórios de uma narrativa própria de cada grupo (artista). Esta ocupação se torna uma atitude de atores sociais que afirmam a função catártica da arte buscando se apropriar de uma linguagem para expor os seus motivos e/ou estabelecer conexões com outros olhares. Julgo o valor de exposição através de um conceito histórico "A Autenticidade"(Hic et nunc). Aquilo que o artista pensa ao querer transmitir um conteúdo, buscando tornar próximo aquilo que é aparentemente distante. Em uma palestra no auditório de uma grande livraria eu me declinava a respeito deste conceito de "autenticidade" com uma amiga e psicologa que me convidou a assistir aquela palestra sobre mitologia, e concluí não haver autenticidade alguma na consciência humana.
Com isso posso concluir, sobre estes marginais, que o que buscam não é a satisfação de uma demanda de mercado, ou seja, não é um fazer artístico, ao contrário, é um não fazer. Muitos têm na consciência que o que fazem jamais se tornam um produto de mercado, um serviço e assim não o querem que se torne, fazendo por não fazer, arte pela arte.
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